Por que especificamente a escrituração por partidas dobradas?
O conceito de dualidade frequentemente utilizado para justificar as partidas dobradas apenas exige que sejam reconhecidos dois lados de cada transação. Isto poderia ser com igual facilidade feito numa única coluna, usando sinais positivos e negativos, quanto em duas colunas com débitos e créditos. Por exemplo, ao se usar caixa para adquirir estoque, por que não simplesmente colocar um numero positivo na coluna estoque, um numero negativo na coluna caixa numa planilha? Por que falar de debitar uma conta creditar a outra? Por que toda essa maquinaria complexa? O fato curioso é o de que, embora os precursores da contabilidade dispusessem de conceito tais como moeda, capital próprio e despesas, não dispunham de números negativos! Havia a noção de números negativos, mas, ainda em 1544, matemáticos como o alemão Michael Stifel os consideravam absurdos e fictícios. Na verdade, não foram utilizados em matemática antes do século XVII. As contas sob a forma de T foram desenvolvidas, portanto, para indicar aumentos de um lado e reduções de outro. O saldo era obtido por uma técnica de “subtração por oposição”, ou, como dizia Pacioli, verificando-se “se crédito foi superado seu débito”. Em outras palavras, toda a maquinaria de débitos e créditos é uma solução engenhosa para um problema inexistente!
Fonte: Teoria da Contabilidade / Eldon S. Hendriksen, Michael F. Van Breda; Tradução de Antonio Zoratto Sanvicente. – São Paulo: Atlas, 1999.